HOMENAGEM A GIAN LUIGI BONELLI - CRIADOR - ROTEIRISTA DO TEX. 16 ANOS DE SUA MORTE.
Gian Luigi Bonelli, considerado o pai dos quadrinhos italianos, onde são conhecidos por fumetto, nasceu em Milão no dia 22 de dezembro de 1908. Aos 40 anos, criou o seu mais célebre personagem, alcançando um sucesso estrondoso, uma marca sem parâmetros. Faleceu em 12 de janeiro de 2001, aos 93 anos.
Mas se engana quem pensa que Bonelli foi apenas Tex. Ele foi muito mais. Escritor compulsivo, a partir de 1936 lançou Artagow, seu primeiro herói, uma espécie de Tarzan, seguido por dezenas de personagens, como Il Crociato Nero, Occhio Cupo, La Pattuglia dei Senza Paura, Yuma Kid, Judok; escreveu romances – I Fratelli del Silenzio e Le Tigri dell’Atlantico, Il Massacro di Goldena – este depois adaptado para a série Tex (Tex 16 – Território Apache).
Fernando Leoni, Carlo Bianchi, Giovanni Altieri, Landi, Romolo Lanza, Sandro Vela, Big Jonh... Alto lá! Não são nomes de outros escritores famosos, nem de desenhistas. Estes foram alguns dos pseudônimos usados por G. L. Bonelli para assinar as suas diversas criações. Naquela época era normal se utilizar pseudônimos para assinar as obras e se manter na sombra, driblando diversos tabus sociais dos detentores do poder e da grande maioria da população, absolutamente ignorante e transtornada pela Guerra. É talvez um fato inerente aos
Bonelli, haja vista que o filho Sergio Bonelli também adotou o nome de Guido Nolitta para Zagor, Tex, Mister No, etc.
Bonelli, haja vista que o filho Sergio Bonelli também adotou o nome de Guido Nolitta para Zagor, Tex, Mister No, etc.
O escritor John Le Carré diz que por mais que se produzam estudos e dissertações na teia burocrática do academicismo, não é possível descobrir o porquê de gostarmos mais da voz de um escritor em nossa imaginação do que a de outro. Com Bonelli não foi diferente, pois ele nos sopra a voz de Tex no mais íntimo de nosso ser. Com a escrita na veia, quis possuir a própria editora e adquiriu a Audace, capitaneada por sua esposa Tea Bonelli, que viria mais tarde a se tornar a todo-poderosa Sergio Bonelli Editore. G. L. Bonelli aplicava-se em tempo integral à criação dos argumentos e desenvolvimento dos roteiros, sem se preocupar com a administração da Editora, deixando tudo com sua esposa e mais tarde com o filho Sergio. Acertou a mão com Tex e foi melhorando a cada aventura, dando-lhe vida própria e emprestando-lhe a alma. A se aceitar a tese de que os autores desenvolvem os heróis com as suas características mais intrínsecas, então podemos dizer que Tex representa o que o escritor gostaria de ser. É bem verdade que uma boa parte são sonhos e desejos inalcançáveis, mas todo homem precisa
sonhar para lutar por suas realizações.
sonhar para lutar por suas realizações.
Assim, Bonelli usou todo o seu senso crítico e sua boa estrela a serviço de Tex, deixando os outros personagens em segundo e depois em terceiro plano. Os tempos eram outros, tinha um personagem de sucesso nas mãos e tomou a iniciativa de progredir, de desenvolver novos personagens e agregar valor ao herói, proporcionando várias alterações e unindo muitas variáveis. Em algum tempo, seu Tex tinha três companheiros, uma dezena de amigos espalhados em lugares estratégicos e um lista completa de inimigos perigosos contracenando nos mais diversos campos do crime. Por quase 30 anos convivemos com a inscrição “Texto de G. L. Bonelli” na parte inferior do frontspício. Nesse período, percebemos as muitas alterações emitidas na publicação. Pudemos ver o Tex impulsivo e tempestivo das aventuras rápidas amadurecer e se tornar o Tex inteligente e explosivo, durão e recheado de qualidades, consistente, que caiu no gosto popular para sempre.
Se Bonelli começou com Tex igual a qualquer um dos personagens anteriores, que não obtiveram tal sucesso, escrevendo a aventura da vez, sem preocupação cronológica, logo teve que mudar e realizar um planejamento a longo prazo e a primeira medida foi introduzir aos poucos os personagens que se tornariam populares. Também foi deixando lacunas para fazer ferver os neurônios dos leitores, algumas que se propagaram no tempo e ainda não foram bem resolvidas e somente agora, depois de muita insistência, vem sendo reveladas, no conta-gotas,
pelos motivos que podemos supor.
pelos motivos que podemos supor.
Sergio Bonelli contou certa vez numa entrevista, que para o seu Pai, no início, Tex era somente um personagem como tantos outros, aos quais não dedicava uma atenção particular. Devia servir apenas para embalar os leitores na fantasia naqueles anos. Ser um roteirista de gibis era quase uma vergonha, disse Sergio, e confessou que para os seus amigos do colégio dizia sempre que o seus pais se ocupavam com comércio exterior.
Bonelli não teve medo de suprir o seu herói de qualidades cada vez mais complexas e até certo ponto inimagináveis. Proveu-lhe de todas as armas e de todas as habilidades possíveis num homem da fronteira. A sua bagagem anterior permitiu diversificar o modus operandi a cada aventura, mantendo, entretanto, a base sólida. O tempo foi passando, o sucesso chegou, a responsabilidade aumentando a cada dia e o incansável Bonelli dedicando a sua existência às páginas do seu personagem mais querido, ao seu Eu. Precisou arregaçar as mangas para dar conta do cada vez mais complexo mundo de Tex Willer. Passou a estudar mais e a imprimir um cunho histórico confiável através de uma pesquisa séria e documentada, capaz de oferecer aos leitores mais conhecimento através do lazer e matar de uma vez por todas o tabu de que gibi não educa.
Tex representou para a imensa maioria dos italianos o primeiro contato com o Oeste Selvagem norte-americano e sua realidade fantástica, mas o que poucos sabiam era que Galep, ao receber a proposta diretamente de Tea Bonelli (esposa de Gianluigi) e Editora da Cepim e Audace para desenhar um novo personagem de faroeste, buscou inspiração e ambientou as paisagens no maciço dolomítico da Sardenha, que conhecia muito bem.
Precisava conhecer pessoalmente o Oeste americano para matar a curiosidade e observar in loco tudo aquilo que havia criado baseado apenas em fotografias e mapas físicos e topográficos. Viajou com os filhos Giorgio e Sergio para a América e conheceu a fantástica paisagem do Monument Valley, do Grand Canyon, do Deserto Pintado, do Rio Grande, das Rocky Mountains, velhos pueblos e as cidades da região, com seus antigos monumentos, seus pontos turísticos preservados, os Navajos e Hopis, Apaches e Sioux, as trilhas e riachos que formam o plano de fundo das maravilhosas aventuras que saíram de sua mente fértil e se tornaram companheiras de milhares de fãs.
Ao leitor brasileiro nunca ficou o menor resquício de dúvida quanto à genialidade de Bonelli. Um passeio pela Seção de Cartas das revistas servirá de parâmetro para a aceitação do roteirista. São muitos elogios durante a maior parte do tempo. Quando ocorreu crítica, geralmente se referia a não aceitação das histórias envolvendo bruxos e seres fictícios, mas que por outro lado, eram muito bem aceitas por outros leitores, que tratavam de fazer a defesa do autor.
Quando demonstrou sinal de cansaço devido à idade avançada, Bonelli incutiu em todos os leitores o medo cruel da não continuidade do seu personagem. Uma grande incógnita plantou-se no mais profundo íntimo dos milhares de fãs e colecionadores espalhados por diversos países, ainda mais no Brasil, onde as respostas dos editores às argüições destes era baseada em suposições. Mas o fiel Comandante estava preocupado em dar prosseguimento a sua obra? tratou de preparar um substituto a altura? Certamente que sim, mas as coisas ocorreram de
modo inesperado, pois Claudio Nizzi chegou na SBE somente em 1981, aos 43 anos, e no ano seguinte já começou a trabalhar com Tex, substituindo o criador e não parou mais, segurando o timão com competência, apesar de desagradar uma parte dos leitores.
modo inesperado, pois Claudio Nizzi chegou na SBE somente em 1981, aos 43 anos, e no ano seguinte já começou a trabalhar com Tex, substituindo o criador e não parou mais, segurando o timão com competência, apesar de desagradar uma parte dos leitores.
Muito provavelmente, a transferência de Bonelli deste para outro patamar espiritual, contribuiu para a queda expressiva nas vendas da revista do seu personagem, pois muitos devem ter aproveitado o fato para se dedicarem a outras coisas, como se continuassem apenas por serem fiéis ao velho amigo. Mas Bonelli fez a coisa certa, permitindo que outro desse sequência à sua criação, como se fosse possível que outra pessoa pudesse fazer algo exatamente igual ao criador. Foi realmente um ato de grandeza, livre de egoísmo, que somente engrandeceu o seu currículo e o fez realmente digno daquele que criou e transcende a tudo e a todos.
Numa entrevista em 1994, Bonelli disse: “ ... eu me identifiquei com Tex e lhe atribuí, no bem e no mal, a minha visão da vida. Tex sou eu!” Temos uma dívida de gratidão com G. L. Bonelli, infinita.
Hoje sabemos que G. L. Bonelli pode trabalhar tranquilo e ter uma velhice mais tranquila ainda, pois o filho Sergio Bonelli tratou de manter o seu personagem dentro dos mesmo parâmetros, amarrando-lhe dentro do mesmo conservadorismo paterno, deixando passar apenas a real diferença que Claudio Nizzi não podia se igualar ao mestre criador.
Morto, Bonelli pai foi se encontrar com Galleppini nos Verdejantes Campos de Caça de Manitu e lá certamente estão, agora na companhia de Sergio, de Ferri, e tantos outros, revivendo alegres e felizes aventuras, acompanhando o que se faz aqui neste Vale de Lágrimas. A importância de ambos para os italianos se confirmou e receberam nome de ruas e até outras organizações. De fato, deixaram um legado que só engrandece aos italianos e principalmente aos leitores, colecionadores apaixonados de Tex.
Crescemos e envelhecemos lendo as incríveis aventuras de Gian Luigi Bonelli e neste 16º. Aniversário de sua morte, rendemos nossa homenagem, pagando um tributo especial de reconhecimento por sua contribuição em nossas vidas.
Três Vivas para Gianluigi Bonelli...
Viva! Viva! Viva!... pois certamente continua firme entre nós.
G. G. Carsan
Nenhum comentário:
Postar um comentário